quinta-feira, 28 de abril de 2011

Testemunho II

Maria, nome fictício, tem 27 anos, o 9º ano e sobrevive em trabalho precário. Trabalha num pequeno negócio familiar, e diz não ser respeitada nos seus direitos como trabalhadora.

Há cerca de 10 anos, os seus pais abriram uma mercearia, ao mesmo tempo que vendiam produtos porta-a-porta. Maria trabalhava, nesta altura, numa fábrica de confeção. Os seus pais, pediram-lhe, bem como à sua irmã, para abandonarem os seus empregos, e se dedicarem a ajudá-los com o negócio. Estas aceitaram. Enquanto a irmã de Maria trabalhava na loja com a mãe, Maria ficou a ajudar o pai, na venda de rua recebendo cerca de 100€ por mês.


A irmã de Maria, como era casada, para além de receber o salário mínimo nacional e ter direito a descontos, saía do trabalho às horas que mais lhe convinha, deixando a mãe na loja sozinha.
Entretanto, com o passar do tempo, o pai de Maria teve um problema de saúde, tendo ela que ficar em casa para o ajudar. Por vontade da mãe abriram uma nova loja que começou a funcionar tendo Maria como proprietária e responsável pela mesma. Como a sua irmã faltava muito ao trabalho, esta tinha que se dividir. Além de tomar conta da nova loja, tinha que ajudar a mãe na outra. Por diversos motivos, incluindo por dar menos lucro, a nova loja teve que fechar, voltando Maria a trabalhar na antiga loja com a mãe e a irmã. A mercearia albergava agora 3 funcionários: Maria, a mãe e a irmã, continuando o pai a vender porta-a-porta sozinho.


A irmã de Maria continuava a faltar muitas vezes ao trabalho. A mãe propôs-lhe demiti-la, ficando a receber o subsídio de desemprego, ao qual esta concordou, já que este teria uma duração de cerca de três anos.
Há cerca de quatro anos que Maria trabalha na mercearia com a mãe, que lhe prometeu sempre o salário mínimo nacional, o que até hoje não aconteceu.


Maria diz sentir-se por vezes arrependida por trabalhar em família, uma vez que os problemas familiares perturbam o funcionamento laboral. Vive atualmente com muitas rivalidades com a irmã, e sente que esta a tenta prejudicar.

A mãe de Maria gostaria de passar a gerência da loja para esta, para poder descansar, mas, no entanto, a sua irmã faz de tudo, para voltar a trabalhar na loja, já que não arranja emprego.
Neste momento, Maria abre e fecha a mercearia, sem receber o salário mínimo e sem ter direito a descontos para a Segurança Social, e o que a mãe lhe responde quando é questionada sobre este assunto é que Maria ainda não é casada para ter estas regalias.


A loja, hoje não lucra tanto como outrora, afetada pela crise que se vive no país.
Maria sente-se injustiçada, porque trabalha muito na loja e não lhe dão o devido valor, e porque sente que a sua irmã se aproveita dos pais. Sente que se um dia, a irmã voltar para a loja, esta terá que sair para que os problemas entre as duas não se agravem.

Se por acaso a loja da mãe tiver que fechar, Maria não terá direito a qualquer apoio.


Se se aleijar, ou se ficar doente, nada mais terá que o apoio familiar. Será isto justo para alguém que dedicou parte da sua vida ao negócio da família? Que trabalha diariamente, para que nada falte em casa? Será que o facto de querermos o melhor para a família, de estarmos sempre disponíveis para o que for necessário, de colocarmos sempre a família em primeiro lugar, compensará no dia em que a vida seguir outro caminho?

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