terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Workshop "Dignity"

No âmbito da campanha europeia “Dignity” da Juventude Operária Católica (JOC), a diocese do Porto organizou no passado sábado, dia 4, no auditório da Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira, um workshop/ debate sobre a dignidade dos jovens. Apesar da noite gélida que se fez sentir, 115 pessoas reuniram-se para, em conjunto, refletirem e analisarem esta realidade. Esta mobilização, bem como a participação ao longo do debate, demonstraram a preocupação que, cada vez mais, todos os portugueses sentem quanto à realidade em que vivemos, bem como a consciencialização de que todos nós devemos fazer parte da solução para a mesma.

Para auxiliar e enriquecer a reflexão foram convidados como oradores o secretário de Estado do Desporto e Juventude, Dr. André Pardal; o vigário geral da diocese do Porto, Padre Américo Aguiar; a presidente nacional da JOC, Elisabete Silva; o presidente da associação de estudantes do Colégio Liceal de Lamas, Daniel Gomes; o representante do sindicato, funcionário público e membro da autoridade para as condições de trabalho, Brandão Guedes e o presidente da Associação Empresarial de Santa Maria da Feira, Dr. Artur Dias.

Iniciando o encontro, foram apresentados os resultados dos inquéritos realizados. Assim, 97,51% dos jovens concordam que a dignidade consiste em não se ser considerado um objeto mas uma pessoa integral. Como aspetos que mais contribuem para a dignidade foram apontados, por ordem decrescente de importância: a saúde, ter tempo livre, ter acesso à educação, ser respeitado pelos outros e aceite pela sociedade, ser livre para tomar as suas opções e por último, ter um salário digno.
De ressalvar que as instituições que mais consideram os jovens como um objeto e um número foram apontados os políticos, as administrações, o ensino nacional e, ainda que em menor percentagem, a Igreja e a Família.

Importa ainda referir que 91% dos jovens consideram que não têm empregos estáveis e bem remunerados, 87% consideram que não têm casas decentes e a preços razoáveis e 61% defendem que não podem construir livremente a sua vida familiar.

Cada orador deu o seu parecer quanto aos dados apresentados, contextualizando-os na sua área da actuação. Nas palavras do Dr. André Pardal “a dignidade dos jovens entronca no chavão da sua emancipação, sendo três os principais corolários da mesma: o emprego, a habitação e a educação”, referindo que 1 em cada 3 jovens estão desempregados, mas que a maior taxa de incidência é ainda nos jovens que não têm formação académica.


O Padre Américo Aguiar ressalvou o facto de a Dignidade ser um dos 4 alicerces da Doutrina Social da Igreja. Nas suas palavras “os nossos pais tinham um mundo bem arrumado, as coisas eram como estavam previstas. Nascia-se, estudava-se na certeza de que no final do percurso académico teríamos um emprego, arranjaríamos casa e constituiríamos família. O canudo era via verde para o sucesso. As pessoas nasciam, viviam e morriam na mesma terra.” Hoje em dia, tendo em conta a conjuntura socioeconómica, esta já não é a realidade vivida e muitas vezes sentimos “que o mundo nos foge dos pés”. Referiu ainda que a dignidade passa por podermos seguir aquilo que queremos ser, seguir a nossa vocação, mas que tal é cada vez mais difícil pois são muitas as variáveis que influenciam a escolha do nosso caminho.

A nossa presidente nacional, Elisabete Silva, chamou a atenção para as injustiças sociais, como a atribuição de bolsas, e para a dificuldade dos jovens em terem tempo livre. Defendeu que dignidade implica ter um trabalho e um salário digno e salientou o facto de só agora se falar num plano de emprego jovem. Foi uma vez mais realçado o papel da JOC na sociedade, sendo que têm sido várias as iniciativas que o movimento tem realizado de modo a consciencializar os jovens para esta realidade de modo a que juntos a possamos transformar.

Todos foram unânimes em considerarem que vivemos tempos de crise, em que a geração de hoje enfrenta muitas dificuldades e uma realidade muito mais desorganizada que as anteriores. Ressalvaram-se os índices de desemprego jovem, as dificuldades no acesso à habitação e à própria autonomia dos jovens, que dependem cada vez até mais tarde do suporte familiar. Quer oradores quer os participantes referiram a perda de valores a que vimos assistindo, tendo Daniel Gomes referido que sente que os pais estão cada vez mais assoberbados com o trabalho, trabalhando horas a fio e que é cada vez mais exigido à escola que, para além da sua missão fundamental de transmitir conhecimentos aos alunos, seja também o local de passagem de valores, que antigamente era um papel assumido maioritariamente pelos pais.

O Dr. Artur Dias partilhou o trabalho que a Associação Empresarial tem realizado junto dos jovens, nomeadamente através da realização de alguns projectos que dão protagonismo aos jovens, em quem confiam e que responsabilizam, e que consistem na realização de actividades concretas e de grande visibilidade no concelho.

A participação de Brandão Guedes foi bastante acutilante, chamando a atenção para a precariedade vivida e que deve ser solucionada pois “estamos a jogar com futuro do país”. Defendeu que é fundamental que “as políticas económicas e sociais sejam alteradas, pois não basta a austeridade que é exigida, tem de se investir e investir bem, nomeadamente na juventude”.
Todos concordaram também que para enfrentarmos esta situação e a conseguirmos resolver, é importante que nos associemos, que participemos nas tomadas de decisão.

É importante que saibamos usufruir da educação e formação que nos é dada, que assumamos os nossos deveres e os cumpramos para podermos, com legitimidade, lutar pelos nossos direitos. Não podemos ficar no conforto dos nossos lares à espera que um trabalho nos caia no colo e que sejam os outros a resolver os problemas e dificuldades que todos sentimos. Nas palavras do Padre Américo Aguiar, “devemos pensar globalmente e agir localmente”.

Este é o desafio que nos é lançado: em conjunto, associados, “tomemos nas nossas mãos o destino das nossas vidas”.

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